ChatControl na União Europeia: uma causa nobre ou o início da vigilância total?

Publicado: 06.10.2025
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Uma ameaça séria paira sobre a União Europeia: o projeto de lei “Chat Control” (oficialmente — CSAR) propõe que todas as mensagens dos usuários sejam analisadas por algoritmos antes da criptografia. Isso representa uma transformação de uma medida de proteção infantil em um sistema de vigilância em massa das comunicações privadas.

1. O que é o Chat Control / CSAR

Oficialmente chamado de Regulamento para Prevenir e Combater o Abuso Sexual Infantil (CSAR), foi proposto pela Comissão Europeia em 11 de maio de 2022.

Os críticos o chamam de “Chat Control 2.0”. Ele busca estender a obrigação de escaneamento obrigatório — incluindo o escaneamento no lado do cliente — a todas as comunicações, inclusive as criptografadas.

2. Como funcionaria — o mecanismo de vigilância total

Escaneamento no lado do cliente significa verificar o conteúdo das mensagens no dispositivo do usuário antes da criptografia. Se for detectado conteúdo suspeito, a mensagem pode ser bloqueada ou enviada para análise.

O projeto prevê “ordens de detecção”, obrigando as plataformas a escanear mensagens e relatar os resultados às autoridades.

O sistema pode abranger não apenas materiais conhecidos de abuso infantil (CSAM), mas também padrões “desconhecidos” identificados por inteligência artificial.

O controle também se aplicaria a serviços fora da UE que operem no mercado europeu.

Algumas versões propõem exceções para comunicações governamentais, criando um duplo padrão.

3. Datas-chave e etapas do processo legislativo

  • 12 de setembro de 2025 — os Estados-membros da UE devem finalizar suas posições nos grupos de trabalho do Conselho.
  • 14 de outubro de 2025 — possível data de votação no Conselho da UE.
  • Final de 2025 / início de 2026 — início do diálogo trilateral entre o Parlamento, o Conselho e a Comissão, caso o texto seja aprovado.
  • 3 de abril de 2026 — fim do período provisório de derrogação, prorrogado para manter o quadro atual.

O regulamento provisório existente (Regulamento 2021/1232) foi prorrogado até 3 de abril de 2026.

4. Preocupações: uma ferramenta de vigilância em massa

Embora a lei seja apresentada como uma medida para proteger as crianças, os críticos afirmam que ela representa um passo extremo rumo ao controle total das comunicações privadas.

Escanear todas as mensagens não é uma abordagem direcionada, mas uma forma de monitoramento universal com enorme potencial de abuso.

O risco de “desvio de função” é alto: hoje é contra o CSAM, amanhã pode ser usado contra ativistas políticos, jornalistas ou dissidentes.

Os algoritmos são imperfeitos — falsos positivos podem levar ao bloqueio de conteúdo inocente.

Isso destrói as garantias da criptografia ponta a ponta: se o dispositivo lê o texto em claro, cria-se uma vulnerabilidade potencial.

Há também dúvidas jurídicas sobre sua compatibilidade com os artigos 7 e 8 da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia.

5. Reação do setor: um sinal de alerta do Signal e de outros

O Signal declarou que, se a lei exigir escaneamento no lado do cliente, está disposto a deixar o mercado europeu em vez de comprometer seus princípios de privacidade e criptografia.

A presidente do Signal, Meredith Whittaker, afirmou: “Se tivermos que escolher entre construir um sistema de vigilância ou sair — nós sairemos.”

O Signal compara o Chat Control a um malware — um sistema que escaneia mensagens como um spyware no dispositivo do usuário.

Outros provedores, como o Tuta Mail, também expressaram disposição para contestar judicialmente e resistir à proposta.

Conclusão: Sob o pretexto de proteger as crianças, o Chat Control (CSAR) busca legalizar o escaneamento em massa de mensagens privadas. Se aprovado, a privacidade, a segurança e a confiança dos usuários estarão em risco. Não é apenas mais uma lei — é um teste para a democracia na era digital. Se o Signal e outros deixarem a Europa, será um sinal de que a linha entre proteção e vigilância foi cruzada.
Etiquetas: ChatControl, UE, criptografia, Signal, privacidade, vigilância, EFF, direitos digitais, lei de segurança infantil, Tuta Mail, escaneamento do lado do cliente